terça-feira, 24 de junho de 2008

O brilho


*

"Com um brilhozinho nos olhos
E a saia rodada
Escancaraste a porta do bar
Trazias o cabelo aos ombros
Passeando de cá para lá
Como as ondas do mar
Conheço tão bem esses olhos
E nunca me enganam
O que é que aconteceu diz lá
É que hoje fiz um amigo
E coisa mais preciosa no mundo não há

Com um brilhozinho nos olhos
Metemos o carro
Muito à frente muito à frente dos bois
Ou seja fizemos promessas
Trocámos retratos
Traçámos projectos a dois
Trocámos de roupa trocámos de corpo
Trocamos de beijos tão bom é tão bom
E com um brilhozinho nos olhos
Tocamos guitarra
Pelo menos a julgar pelo som

E o que é que foi que ele disse?
E o que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Passa aí mais um bocadinho
Que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Portanto
Hoje soube-me a pouco

Com um brilhozinho nos olhos
Corremos os estores
Pusemos o rádio no on
Acendemos a já costumeira
Velinha de igreja
Pusemos no off o telfone
E olha nao dá para contar
Mas sei que tu sabes
Daquilo que sabes que eu sei
E com um brilhozinho nos olhos
Ficámos parados
Depois do que não te contei

Com um brilhozinho nos olhos
Dissemos sei la
Tudo o que nos cai no lodo
Do estilo: és o number one
Dou-te vinte valores
És seis do meu totoloto
E às duas por três
Bebemos um copo
Fizemos o quatro e pintámos o sete
E com um brilhozinho nos olhos
Ficámos imoveis
A dar uma de tête a tête

E com um brilhozinho nos olhos
Tentamos saber
Para lá do que muito se amou
Quem éramos nós
Quem queriamos ser
E quais as esperanças
Que a vida roubou
E olhei-o de longe
E mirei-o de perto
Que quem não vê caras
Não vê corações
E com um brilhozinho nos olhos
Guardei um amigo
Que é coisa que vale milhões"

Sérgio Godinho - Com um Brilhozinho nos Olhos


*Klimt

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Uma ilha, um jardim, um paraíso



Chegar ao Funchal, atacar um prego no bolo do caco e uma poncha. Subir, subir, subir, subir, subir subir e subir mais um bocadinho só para chegar lá a cima, a um lugar onde se vê o Funchal de cima. Fim de tarde, luz de final de dia, jantar à luz da últimos raios de sol. As lapas, o espada com banana, o vinho branco e tudo o que se tem direito e um bom pedaço a mais do que o mínimo desejável.



Dormir, acordar, partir à descoberta da Madeira. Correr a costa, almoçar em Porto Moniz, ver a vista, parar lá em cima e beber um café na Ponta do Pargo, molhar os pés em Paúl do Mar. Subir à serra ver vales verdejantes e serras com vista para o mar. Descer a serra, e descobrir recantos povoados ao longo da encosta sul: Ponta do Sol, Madalena do Mar. Calheta. Parar em Câmara de Lobos, no Estreito, para provar as espetadas com o milho frito.



O outro lado. Para no Machico para ver as vistas, ir até à pontinha olhar para as desertas e ir até Santana para entrar nas casinhas de colmo. Fazer turismo. Seguir pelas estradas correr miradouros. Pensar em voltar para trás, ser contrariada e perceber que vale a pena deixarmo-nos levar pela teimosia alheia ao chegar ao mais bonito dos lugares. Aquele em que só se pensa em ficara para sempre. Ali construía a minha barraquinha, ali chegava-me o êxtase e o arrebatamento que a vista causa nos restantes sentidos.



Seguir caminho descer, descer, descer, descer e descer mais um pouco até ao Curral das Freiras. Subir, subir, subir, subir, subir até ao Pico do Areeiro. Ver as nuvens de cima, ver o mundo aos pés e sentir um arrepio bom a subir na espinha. Descer, apenas um pouco, parar no Poiso. Ver a bola, ver as aspirações portuguesas a ficar pelo caminho entre um e outro gole de poncha. Compensar a tristeza, com um repasto de outro mundo. Começar a descer para o Funchal, olhar para o lado e ver a lua. Cheia. A iluminar o mar de nuvens que separa o céu cá de cima, da terra lá de baixo delas. Inebriante.



Andar. Andar de tudo. Andar de autocarro. Ir a correr para chegar a horas do catamarã da manhã. Ver os golfinhos a pular à frente do barco. Não ver as baleias. Apanhar sol. Contemplar a ilha vista do mar. Voltar a terra. Apanhar o teleférico para o Monte. Parar para a espetada em pau de louro. Perder o rumo pelo jardim tropical. Ver as pontes, as árvores, as flores exóticas, as fontes, os peixes, as cascatas. Guardar cada pedaço dentro de um cartão de memória, para ver e rever mais tarde. Descer nos cestos. Descer o resto a pé para fugir da caça ao turista. Dar a última visa de olhos à cidade e partir.



Vinte anos depois, o regresso. Valeu pelo despertar dos sentidos, valeu pela partilha de todas estas imagens, valeu de verdade.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A festa na minha aldeia



Na festa da minha aldeia há carrocéis, carrinhos de choque e casas do terror.
Na festa da minha aldeia há barraquinhas com enchidos e tascas com caipirinha.
Na festa da minha aldeia há sardinha assada e pita shoarma.
Mas há sobretudo festa durante uma semana inteira. Festa da rija e da boa.
As senhoras vestem a roupa da missa, os senhores vestem a camisa de quadrados e penteiam os cabelos e os bigodes.
Nas janelas com vista privilegiada juntam-se familias inteiras.
As pessoas vêm à festa para ver pessoas, para os meios cumprimentos, para verem e para se darem a ver. É um ritual social que junta três gerações aleatoriamente pelas ruas da minha aldeia.
Hoje há Roberto Leal. As velhas dançam animadamente em passo de baile ao mesmo ritmo que as raparigas abanam o corpo. No ano passado, Daniela Mercury encheu o pátio com vista para o palco e os pés sairam do chão com o modo sardinha em lata activo. Há dois anos, comprovei que os habitantes da minha aldeia adoram Quim Barreiros, sabem as letras e as velhas dançam em pares. Há três o Tony, o Carreira, bloqueou todas as estradas da vizinhança e para lá da vizinhança.
Na festa da minha aldeia há uma roda gigante, há balões, pipocas e algodão doce.
É isto. É tão puramente isto.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

»»»» Portugueses entre a bola e a bomba ««««««««

Cap. 1 - Ataque às bombas!

Tal e qual os vendedores de peixe também eu retirei metro e meio ao peixe quando ouvi os noticiários a falarem em bombas sem combustível. Uma hora e meia depois de começar a minha odisseia de bomba em bomba lá voltei a devolver o metro e meio ao peixe e lá consegui encher o meu querido depósito. Durante os próximos 800 quilómetros espero que a coisa se resolva ou retirarei as teias de aranha à minha bicla.
Assim se vê Portugal. Os condutores com o ponteiro para cima pavoneavam-se pelas estradas, os condutores com o ponteiro para baixo resumiam-se à insignificância das bermas de estrada e esperavam pela vez ao longo de uma longa fila. Claro que em algum momento o ouro podia acabar. E não é que acabou DOIS carros à frente do meu?!?!!?!?
E depois veio o caos. As estradas e rotundas entupidas pelas filas exasperavam uns e outros e o resultado era ninguém passar! Foi uma manhã muito curiosa. Quase que fiz amigos entre as duas bombas.


Cap. 2 - Futebol, cachecóis e bandeirinhas

E lá nos voltámos todos a orgulhar da nossa selecção. Portugal voltou a ficar em ritmo ameno para os ver jogar (ou ouvir caso estivessem numa bomba). Ok, não acho graça nenhuma ao "cada casa, uma bandeira", e irrita-me que o futebol mova mais gente que as causas. Mas quando a coisa está a acontecer acho que tudo é legítimo. 'A Portuguesa' aos berros, a vestimenta a rígor, os cachecóis e bandeiras nas bancadas, a loucura dos golos e a festa.
Por umas horas lá se vão as preocupações com a crise, com as greves, com trepidação dos orçamentos familiares, com o crédito mal parado e afins. Chamem-lhe
ópio, chamem-lhe seja o que for. Mas que vale, vale!

Ficam as Dúvidas/Pedidos/Incompreensões:
- Alguém pode ensinar 'A Portuguesa' aos meninos que jogam com a camisola cá da terra?
- Alguém me explica o porquê da celebração em rotundas ?

terça-feira, 3 de junho de 2008

O Zé de Portugal



Ele é bom. Ele é muito bom. A maioria das vezes é verdadeiramente insuportável e arrogante. É definitivamente o special one. Acho fabulosa toda aquela confiança e determinação. Causa paixões e ódios. Provoca, irrita, causa raiva. Hoje, orgulhou todos os que lhe seguem as passadas ao chegar ao Inter e destroçou cada um deles quando se recusou a deixar de falar no pretencioso italiano e responder em português à pergunta do jornalista da Sic.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Pérolas

"Um homem como deve de ser não toca com as beiças na pata da senhora. É o que diz o protocolo".

Maravilhoso!