quarta-feira, 31 de outubro de 2012
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Googling myself
Googlei-me mais por nostalgia do que por narcisismo e fui ter a outros lugares de mim, da minha vida.
Por momentos voltei a esses lugares de novo, a essas conversas, a esses estados de espírito. Voltei a vestir as indumentárias póprias desses lugares, voltei à humildade dessas conversas, voltei à agressividade dessas perguntas, voltei às pessoas que abriram o coração e partilharam as dores, as alegrias, as surpresas.
Bateu uma sensação que nem eu sei explicar. Um misto de saudade com tristeza. Vivi tantanto e tão intensamente em tão pouco tempo. Não, não foi assim tão pouco... é aquela de que aquilo que é bom voa no tempo a uma velocidade alucinante.
Volto. Revivo.
Estou de novo no fundo de uma mina, nas entranhas da terra só com uma luzinha pendurada num capacete que teima em cair-me para a frente dos olhos.
Estou de novo em casa de um pintor que dá cabo da saúde só pelo prazer de pintar.
Estou de novo diante de uma frágil criança com uma sentença de morte iminente.
Estou de novo num quarto fetiche a chorar com uma mulher que se prostitui porque desespera por dinheiro para pagar as contas.
Estou de novo nervosa antes de entrevistar aquele personagem intimidante.
Estou de novo no meio da neve, a seis mil km de casa, a deixar a minha mão ficar roxa de frio com o entusiasmo da conversa, estou de novo a sentir o que eles sentem quando estão longe de casa e estou de novo a beber aquele chocolate quente que dá um conforto diferente a essa distância.
Volto aquela mãe que abre o coração para falar do filho que se apaixonou pela droga. Volto aquele telefonema de agradecimento sincero por causa de um texto em que era eu quem estava grata pela partilha.
Volto aquele helicóptero a meio da noite onde o pijama ainda está vestido debaixo da roupa que entrou à pressa.
Volto a subir no balão de ar quente e a ouvir aquela proposta para a chance in a lifetime.
Volto a abrir a pestana às quatra da manhã e a sentir aquele friozinho no estômago antes de partir, com um "é mesmo agora" a bailar-me no pensamento.
Volto ao ensurdecedor barulho de um C130 carregado de gente, bagagem e cansaço.
Volto a estar dentro de uma ambulância a chocalhar durante oito horas depois de andar a resgatar doentes perdidos em lugares ermos.
Volto a andar de porta em porta a acompanhar "os da festa" os que andam a recolher fundos para a festa da terra, depois de já ter feito uma procissão e antes de 30 horas de trabalho seguidas.
Volto aquela ambulância em Rio de Moinhos, entre Vila Nova de Milfontes e Beja onde aquela miúda que ali está - e que quatro anos antes não quis esperar pela maternidade -nasceu.
Volto aquela senhora que mora a pouco mais de 2 quilómetros do vulcão me conta tudo com pormenores deliciosos que só alguém com noventa e muitos anos podia descrever, recordo-me da berraria em que decorreu a conversa graças à profunda surdez da senhora. e do banho de quase uma hora para tirar as cinzas do vulcão do corpo.
Volto ao drama dos que foram levados pela ravina abaixo e cairam ao Tua.
Volto aquela sensação de sair atrás de uma história e de não saber com o que vou voltar no bloco de notas.
Volto ao senhor Francisco, um senhor que não sabe ler nem escrever, não sabe a data de nascimento, mas sabe tudo sobre a terra onde nasceu, cresceu e envelheceu. Sabe aquilo que mais ninguém sabe.
Volto aquele convento, onde ela - do lado de lá da grade - e nós - do lado de cá- conversamos longamente sobre o que a levou a deixar a vida cá de fora e entrar na clausura.
Volto aquele miúdo que fotografamos dois minutos antes de se acabar a luz do sol e 15 segundos antes de cair a mair chuvada de granizo que já vi. Volto ao arroz de enchidos qie comemos depois em jeito de celebração.
Volto a uma tarde, no meio da serra numa cerimónia de Druidas.
Volto ao orgulho que vi na face de quem faz coisas que mais ninguém faz no mundo. Volto à claurura de quem vive atrás das grades. Sinto no peito a sensação de ouvir a grade a fechar-se atrás de mim e depois outra e outra. As chaves a encerrar o espaço.
Volto a história de um dos homens mais procurados do Mundo, a do pacato homem.
Volto a saubir as escadas da torre de controlo naquele fim de tarde e a ver o que mais ninguém viu porque fugiram todos da chuva, olho e vejo. Vejo tudo a passar-me a frente.
Volto e volto e revolto a tantos outros sítios e gentes e histórias e sensações e momentos.
Volto aquela redacção, às horas sem fim, aos dias que não acabam, à sensação de que o cérebro se transformou em papa, volto às bolas que voam de um lado para o outro, volto às pizzas partilhadas, às zangas, às gargalhadas sem fim. Volto a pôr os headphones nos ouvidos e a música no máximo para depois desatar a bater furiosamente no teclado, volto às confidências e às inconfidências, volto às pessoas. Volto aos quilómetros no corpo. Volto aos personagens. Volto às pessoas que passaram e ficaram. Volto aos amigos que fiz, volto a mim. Volto aquilo que era, aquilo em que me transformei e aquilo que sou.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Devaneio
São incalculáveis os caminhos que iremos percorrer. São muito distante daqueles que queremos, efectivamente, percorrer. Não há predestinação nenhuma, ou há, mas é tal e qual um presente. Quando nos é dado vemos um embrulho, só quando o abrimos vemos o que lá está dentro. E, mesmo depois de aberto, podem continuar a haver surpresas até se chegar ao fundo da caixa. Destino, fé, seja qual for a crença, nada é planeável. Podemos dizer que sim, que não, que nunca, que sempre e possivelmente vamos bater com todas as previsões um passo ao lado. É sempre surpreendente, bom ou mau. É sempre inexpectável, improvável.
Vêm as lágrimas, os sorrisos, a vontade de lutar, a falta da força para respirar. E tudo chega e tudo vai, fazendo de nós mesmos meros espectadores diante da nossa própria vida, mas sempre a acharmos que somos os protagonistas da história e que somos nós a decidir a nossa vida. Irónico.Esmagador.
terça-feira, 24 de julho de 2012
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As ideias correm a mil, as palavras não saem, não correm, não escorrem, estão ali penduradas entre o porto seguro e o abismo numa correria tresloucada.
Vão saíndo sob a forma de pinceladas aleatórias, sob o sabor do acaso.
As pinceladas escorraçam as angústias, descobrem a tranquilidade que anda numa de esconde-esconde´. Por ora, é isto.
terça-feira, 8 de maio de 2012
Estados de alma
É aquele momento a seguir a deixar cair um copo no chão e dizer um palavrão. É o silêncio que se segue ao barulho dos estilhaços e da palavra. É um silêncio ensurdecedor, um momento de assimilação do acontecimento. E agora?
Este é um desses momentos. Veio o turbilhão, vieram três voltas e meia numa vida só. No meio desses turbilhões não se vê nada, não se assimila nada. As assimilações vão espreitando e chegam.
Foram mais de 2300 dias de vida. Foram seis anos e quase meio. Foram muitos dias, foram muitas circunstâncias, muitas gargalhadas, muitas pessoas, muitos momentos, muitas histórias, muitos momentos duros, muitas dificuldades, muita argumentação, muitas noites sem dormir, muitas noites meio dormidas, muitos quilómetros no corpo, muitas curvas, muitas correrias, muitos fechos, muitas malas que nem chegaram a ser desfeitas antes de serem atiradas para a mala de um carro, muitos dias em que o cérebro ficou em papa, muitos directores, muitos colegas, muitas pessoas que não interessam a ninguém. Foram muitas palavras, muitos textos, muitas páginas, mais de 300 revistas, muitas foram verdadeiros milagres editoriais. Milagres de uma luta contra o tempo, contra a falta de mais dedos para teclar mais, contra a falta de noção de quem nem sequer tem a noção de como se faz, de quem é pequenino.
Eles não sabem que estes milagres existem, eles não sabem o valor de quem ali tivereram, eles não sabem quantas pessoas extraordinariamente boas ali passaram, é que nem sequer imaginam! Não sabem como aquilo que tinham eram um diamante em bruto. Nunca haverão de saber porque não sabem nada.
Eu, nós, sabemos bem. Sabemos bem melhor, pelo menos. Sabemos o que fizemos ali, o que fizemos daquilo e mesmo que eles não saibam e nos tenham dado a nós, a tantos nós (agora e até agora) um pontapé no rabo, nós sabemos e é isso que importa. Podem manchar a memória de uma revista, não podem apagá-la. Eles e muitos outros podem dizer que era um fiasco, uma porcaria, que não interessava a ninguém. Quantos não iam a seguir fazer igual em outros lados e se esqueciam de onde tinham retirado tais ideias. Não, não era melhor que nada, mas com toda a certeza que pior não era. Vendia? Não vendia? Who cares!?!?!?! Não fazia dela má. Tinha muitas coisas más, claro que tinha. Quem é que acredita que nós - nós os qe importam - queríamos aquelas páginas centrais?!
Falem, os de dentro e os de fora. Podem papaguear o que quiserem, tal como aqueles que por lá passaram meia dúzia de meses e se acham com moral para tal. Isso não importa coisa nenhuma. Nem eu importo coisa nenhuma, apenas me importo que digam mal daquilo que também foi meu, nosso.
Sentada na cadeira do centro de emprego - depois de ter levado com o pontapé no rabo e de levar com a falta respeito deles - olho para trás e sinto um enorme orgulho nestes seis anos e quase meio. Em mim e naqueles com quem lutei contra os de fora e sobretudo contra os de dentro. Fizemos tanta coisa boa, tanta coisa bem feita! Levámos ao extremo a essência do que é fazer jornalismo. Vestimos a camisola, que há muito estava rota. Remendámos os buraquinhos e demos tudo por quem não deu nada
Sabem uma coisa? Não tem nada a ver com terem posto a placa na porta a dizer fechado! Não se trata ninguém como não gostaríamos que nos tratassem a nós. É apenas isso. Todos nós caímos. Mais tarde ou mais cedo todos nós caímos e nos tornamos mais humanos e menos prepotentes e arrogantes.
Aqui da minha cadeirinha no centro de emprego faço o balanço. É extraordinariamente positivo. Nos caixotes, trouxe momentos inesquecíveis, trabalhos que valeram cada gota de suor, histórias incríveis de pessoas extraordinárias e muitas noções, sobretudo a de que vale a pena dar tudo por tudo, lutar até à exaustão para se conseguir aquilo que se quer. Guardo em mim cada pessoa que conheci nestes seis anos e meio, guardo sobretudo aquelas que continuam e vão continuar sempre a fazer parte da minha vida.
Assimilei. Demorou, mas acabei de assimilar.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Palavras malditas
Há as coisas que nos acontecem a nós e aquelas que só acontecem aos outros. Um dia, quando essas coisas que só acontecem aos outros nos acontecem a nós, o Mundo cai-nos em cima com uma violência tal que demoramos a assimilar uma realidade que não era a nossa, mas que afinal acabou por ser a nossa. Tão nossa que depressa se entranha nos nossos dias, nos nossos quotidianos. É assim porque tem de ser.
Muda tudo. Muda-se os hábitos, muda-se as prioridades. Muda-se o interior mais profundo, muda-se a essência daquilo que se é. Não se muda porque se quer. Muda-se porque, de repente, aquilo que só acontecia aos outros acontece-nos a nós. Um dia, aquelas tristezas dos outros transformam-se nos nossos sofrimentos. Pior, aquilo que só acontece aos outros, aconteceu aos nossos mais queridos, aos nossos mais amados, aos nossos preciosos. E aí o Mundo ganha outras cores, outros contornos. Acredito que se vê com uns olhos maiores, que se vê mais com o coração e menos com as pressas do dia a dia que banalizam tudo.
O chão dá uma volta e meia e ficamos suspensos na incredulidade. Aquilo que há muito deixamos para trás volta. Procuramos a ajuda no divino, no terreno e no meio termo. É assim o desespero. Faz-nos virar o coração. E o desespero é tanto maior quanto maior é a nossa impotência face aquilo que acontece. É tanto maior quanto maior é o sofrimento daqueles a quem só queremos o sorriso e não há que não as lágrimas. É tanta maior quanto maior é o amor que se tem. É querer arrancar as lágrimas, as dores, os medos. Pegar neles fecha-los num saco bem atado e fugir a correr para bem longe. Despejar o saco no buraco mais fundo de todos os buracos e voltar com a leveza, o sorriso e a felicidade. Mas esse é o desejo que não vem nem que se faça um buraco na lamparina de tanto a esfregar. E o que resta é dar aquilo que se tem de mais genuino. Resta dar o amor, dar o coração, dar a alma. Dar. Dar e dar e a melhor paga que se pode receber é esse tal sorriso, esse sorriso que apaga todos os males do mundo por uns escassos momentos, uns momentos que não se trocariam nem pelos mais preciosos diamantes.
Dai arrancam-se todas as forças. São esses sorrisos que permitem aguentar todas as dores da alma pelas dores de um corpo que não é nosso. São esses sorrisos que dão coragem e nos fazem acreditar que as palavras malditas, as doenças maldita, não vão ser mais fortes. E só se consegue ver com olhos de ver quando se vai ao mais profundo do que se é, quando se desce aos recantos mais obscuros do nosso ser e se olha para o mundo com uns novos olhos. Com a noção de que cada dia é uma dádiva, do céu ou da terra.
Aquilo que só acontecia aos outros acontece a todos, mas todos temos demasiado medo para perceber que também nos pode acontecer a nós e aos que amamos. Não se é mais do que ninguém, é-se apenas alguém mais consciente e ainda com mais medo do que antes. Agora sabe-se que não é apenas aos outros, agora sabe-se que amar não é suficiente para proteger aqueles que mais amamos, agora sabe-se que estar é mais importante do que qualquer outra coisa, estar é o bem mais precioso que se pode dar a alguém que é tudo para nós.
quinta-feira, 15 de março de 2012
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Hope and faith
Há palavras que não queremos ouvir nunca, lugares onde não queremos ir nunca, dores que não queremos para os nossos, nunca. Quando esses nuncas nos caem em cima vem o desespero, o medo, a dor da impotência. Depois vem a vontade de lutar, de vencer, de ser mais forte que tudo. Esses são os momentos de revelação que em percebemos o quão insignificantes somos e em que voltamos ao que sempre negámos.
Eis-me de volta à esperança nas coisas do céu. Eis-me crente nas coisas do céu e nas da terra ao mesmo tempo. Eis-me crente na capacidade do homem lutar e na capacidade do céu dar a esperança e o zelo.
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