terça-feira, 8 de maio de 2012

Estados de alma

É aquele momento a seguir a deixar cair um copo no chão e dizer um palavrão. É o silêncio que se segue ao barulho dos estilhaços e da palavra. É um silêncio ensurdecedor, um momento de assimilação do acontecimento. E agora? Este é um desses momentos. Veio o turbilhão, vieram três voltas e meia numa vida só. No meio desses turbilhões não se vê nada, não se assimila nada. As assimilações vão espreitando e chegam. Foram mais de 2300 dias de vida. Foram seis anos e quase meio. Foram muitos dias, foram muitas circunstâncias, muitas gargalhadas, muitas pessoas, muitos momentos, muitas histórias, muitos momentos duros, muitas dificuldades, muita argumentação, muitas noites sem dormir, muitas noites meio dormidas, muitos quilómetros no corpo, muitas curvas, muitas correrias, muitos fechos, muitas malas que nem chegaram a ser desfeitas antes de serem atiradas para a mala de um carro, muitos dias em que o cérebro ficou em papa, muitos directores, muitos colegas, muitas pessoas que não interessam a ninguém. Foram muitas palavras, muitos textos, muitas páginas, mais de 300 revistas, muitas foram verdadeiros milagres editoriais. Milagres de uma luta contra o tempo, contra a falta de mais dedos para teclar mais, contra a falta de noção de quem nem sequer tem a noção de como se faz, de quem é pequenino. Eles não sabem que estes milagres existem, eles não sabem o valor de quem ali tivereram, eles não sabem quantas pessoas extraordinariamente boas ali passaram, é que nem sequer imaginam! Não sabem como aquilo que tinham eram um diamante em bruto. Nunca haverão de saber porque não sabem nada. Eu, nós, sabemos bem. Sabemos bem melhor, pelo menos. Sabemos o que fizemos ali, o que fizemos daquilo e mesmo que eles não saibam e nos tenham dado a nós, a tantos nós (agora e até agora) um pontapé no rabo, nós sabemos e é isso que importa. Podem manchar a memória de uma revista, não podem apagá-la. Eles e muitos outros podem dizer que era um fiasco, uma porcaria, que não interessava a ninguém. Quantos não iam a seguir fazer igual em outros lados e se esqueciam de onde tinham retirado tais ideias. Não, não era melhor que nada, mas com toda a certeza que pior não era. Vendia? Não vendia? Who cares!?!?!?! Não fazia dela má. Tinha muitas coisas más, claro que tinha. Quem é que acredita que nós - nós os qe importam - queríamos aquelas páginas centrais?! Falem, os de dentro e os de fora. Podem papaguear o que quiserem, tal como aqueles que por lá passaram meia dúzia de meses e se acham com moral para tal. Isso não importa coisa nenhuma. Nem eu importo coisa nenhuma, apenas me importo que digam mal daquilo que também foi meu, nosso. Sentada na cadeira do centro de emprego - depois de ter levado com o pontapé no rabo e de levar com a falta respeito deles - olho para trás e sinto um enorme orgulho nestes seis anos e quase meio. Em mim e naqueles com quem lutei contra os de fora e sobretudo contra os de dentro. Fizemos tanta coisa boa, tanta coisa bem feita! Levámos ao extremo a essência do que é fazer jornalismo. Vestimos a camisola, que há muito estava rota. Remendámos os buraquinhos e demos tudo por quem não deu nada Sabem uma coisa? Não tem nada a ver com terem posto a placa na porta a dizer fechado! Não se trata ninguém como não gostaríamos que nos tratassem a nós. É apenas isso. Todos nós caímos. Mais tarde ou mais cedo todos nós caímos e nos tornamos mais humanos e menos prepotentes e arrogantes. Aqui da minha cadeirinha no centro de emprego faço o balanço. É extraordinariamente positivo. Nos caixotes, trouxe momentos inesquecíveis, trabalhos que valeram cada gota de suor, histórias incríveis de pessoas extraordinárias e muitas noções, sobretudo a de que vale a pena dar tudo por tudo, lutar até à exaustão para se conseguir aquilo que se quer. Guardo em mim cada pessoa que conheci nestes seis anos e meio, guardo sobretudo aquelas que continuam e vão continuar sempre a fazer parte da minha vida. Assimilei. Demorou, mas acabei de assimilar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem, pode custar e acredito que muito custe, mas também sei que és forte o suficiente para tudo isso ultrapassares.

Fico contente, que, apesar de ter demorado, teres finalmente assimilado e uma coisa te posso garantir, agora sim, agora estás pronta para a próxima etapa.

Desejo-te o melhor, desejo-te não só sorte, mas também a destreza para que possas tudo ultrapassar.

Ass: Saintwolf