sábado, 7 de abril de 2007

Vagueando pelas ruas da baixa



Uma pequena necessidade é a desculpa mais inocente que encontro para um velho vicio que me enche a alma: perder-me pelas ruas da baixa. Corro preguiçosamente uma e depois outra. Sigo pela Rua Augusta fora com o olhar perdido nas pessoas que por ali andam. Turistas de máquina em punho, familias que aproveitam o sábado para compras, velhotes que fazem a vida de todos os dias alheios ao que os rodeia.


Subo ao Chiado. Entro nas lojas do costume, experimento mil e um trapos. Hoje saio de mãos vazias, com o sentido prático do "não, não preciso". Coisa rara que só se mantém até chegar aos armazéns do Chiado. Aquele monstro devorador que lá pára (entenda-se Fnac) não me permite manter o espírito da ausência de necessidade absoluta. Abro excepção a dois cd's e saio de lá com uma vontade enorme de ter de imediato um sitio onde pôr os meus discos novos a tocar. Mas adio o desejo. Sigo Rua Garrett acima, páro no senhor dos anéis, dou uma espreitadela às últimas novidades. Sigo rua acima, espreito para dentro da Bertrand e dou a volta na Brasileira. Regresso às ruas da baixa, passo na Praça da Figueira e já com pressa não tenho tempo para a tenda do livro manuseado, fica para a próxima.


Sigo em direcção ao Martim Moniz. Não posso deixar de ir comprar os bens de primeira necessidade que só há ali no supermercado chinês da Rua da Palma. Passo pela sempre movimentada e colorida praça onde se misturam chineses, indianos, africanos e afins numa convivência saudável e curiosa. Chego ao destino. Encho um cesto num abrir e fechar de olhos e saio intrigada com dúzia e meia de frascos e embalagens que repousam nas prateleiras. Ainda vou à concorrência comprar aquele delicioso chá de jasmim com chá verde que vem numas latas maravilhosas que não há em mais lado nenhum.


Volto à Praça da Figueira. Pelo caminho "oferecem-me" os telemóveis da praxe. Chego ao carro e sigo marginal fora. Perco-me nos pensamentos enquanto me fascino com o reflexo do sol no mar. Tomo consciência que no par de horas que deambulei me apaixonei dezenas de vezes e me desapaixonei um quarto dessas dezenas de vezes. Pelas coisas mais estapafúrdias. Pelo assador de castanhas, pela foto que um senhor estava a tirar junto à banca de flores, pelo cd que não comprei, pelo anel que até poderia ter gostado se tivesse experimentado, pelo bom aspecto dos bolos que estavam na montra da pastelaria, pelo cheiro da perfumaria.... Mas apesar das vezes que me desapaixonei, apenas porque assim como estas coiasa apareceram também desapareceram, sinto-me cansada e tranquila. Estas manhãs têm um poder estranho em mim, mas o resultado (para além da dor de pés) é maravilhoso.

2 comentários:

ARA *-* disse...

Olá menina!!
Concordo com cada palavra... Só me falta fazer uma visita ao supermercado chinês do Martim Moniz, de que já ouvi falar várias vezes!!
Gostei do texto e das paixões, que breves nos assolam, viciam e fazem voltar vezes e vezes sem conta...
Encontrei a Margarida no Incógnito estes dias... Sempre a rir!!! Quero criar o meu blog em breve. Logo informo. Para já, podes ficar com o meu último texto (em inglês) + dois exemplos da minha outra paixão - a fotografia... "Local Multiculturality!!!" - Lisboa Sights (Categories)em www.oasismansion.typepad.com - o blog da pousada onde trabalho à quase um ano.
beijos muitos e até à vista!!
Rita ou ARA, comme tu veux!

Paulo disse...

Comentário ao comentário:
Incógnito?! Muito fixe! =)