quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Em memória de um professor



Aparecia quando aparecia, de quando em quando, e sempre sem pressas. Chegava e punha a cadeira, pesada e rente ao chão, sempre no mesmo lugar: ao meio das duas fileiras de cadeiras. Para ficar mais próximo e para evitar toda a distância causada por uma secretária, dizia. Podia não ser um excelente cronista. Podia ter um gosto literário duvidável. Podia ser confuso e, por vezes, pouco coerente. Podia ser tantas coisas quanto se imagine de mau ou de bom. O que guardo é a de um invulgar professor. Não um excelente professor. Não foi sequer um grande professor. Mas um daqueles, poucos, que prenderam a atenção e um daqueles, poucos, que deram espaço para dar largas a toda uma imaginação que só uma cadeira denominada de "Teorias da Modernidade e Pós-Modernidade" dada por ele, podia permitir. Liberdade, liberdade, liberdade. Foi o tão grande apenas que ele me ensinou. Liberdade de dizer, liberdade de pensar, liberdade de divagar. Um sem fim de assuntos ao longo de um curto semestre; um incompreensivel (para mim) diálogo sobre telenovelas entre ele e a minha querida ela com cerca de dez parvos a alternar o olhar ao estilo jogo de ténis de um para o outro; e uma deliciosa e memorável gargalhada.

Eduardo Prado Coelho morreu. Para os outros não sei o que deixou de herança. Para mim deixou isto.


quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Danças

A cada nova música o ritmo que se imprime ao corpo mais não é que o resultado de toda uma existência. Um ritmo que suporta o peso de tudo o que já foi e se eleva com a leveza de tudo que está por vir. O chão, repleto de pedras e irregularidades, é o único impedimento para a perfeição no balanço do corpo. O tempo, repleto de trovoadas e de tardes soalheiras, faz alternar os sorrisos com as lágrimas. A lua, ora cheia ora desaparecida, cria o cenário. E os olhos fecham e o corpo segue o movimento impresso pelo batimento que cada nota provoca quando embate na alma.

The Dance - Paula Rego

Volcano - Damien Rice


#'Cause it's too beautiful and 'cause it is too that#


Don't hold yourself like that
You'll hurt your knees
I kissed your mouth and back
But that's all I need
Don't build your world around volcanoes melt you down

What I am to you is not real
What I am to you you do not need
What I am to you is not what you mean to me
You give me miles and miles of mountains
And I'll ask for the sea
Don't throw yourself like that
In front of me
I kissed your mouth your back
Is that all you need?
Don't drag my love around volcanoes melt me down

What I am to you is not real
What I am to you you do not need
What I am to you is not what you mean to me
You give me miles and miles of mountains

And I'll ask for what I give to you
Is just what i'm going through
This is nothing new
No no just another phase of finding what I really need
Is what makes me bleed
And like a new disease she's still too young to treat
Volcanoes melt me down
She's still too youngI kissed your mouth
You do not need me

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Para sempre presidente!!


Eu confesso a minha admiração esquisita por este senhor. Não pelas suas capacidades políticas, não pela sua forma democrática de governar la Venezuela (longe.... muito longe disso), não pela sua aparência tosca, não pelo seu apoio incondicional (e interesseiro) ao amigo cubano Fidel. O que eu gosto nele é o seu espírito assim ao estilo "faço o que me apetece neste pequeno reino que é só meu" e gosto do surreal que há nele. "Agora vou mudar esta treta que é a constituição para poder ficar presidente para sempre". E puff: muda!!

Louçã sobre Pulido Valente

"O Vasco Pulido Valente é um burguês enfastiado que do alto da sua experiência de ex-deputado do PSD da maioria absoluta acha que a política terminou quando ele saiu do parlamento"

in DN de 16 de Agosto (hj ptt!)

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Tradições de verão em perigo!


Então não é que a ASAE foi mesmo apreender 4 mil (assumo que não me lembro do número ao certo) bolas de berlim?!?!?!? Mas desde quando é que se autoriza estes senhores a intrometerem-se num velho clássico e da cultura portuguesa e numa tradição anciã: ouvir alguém gritar na praia que há bolinhas de berlim para se comer enquanto se está deitadinho na toalha a ver o mar? Não se faz. Estou revoltada. Eu sempre comi bolinhas de berlim destas e ainda cá estou para poder escrever as linhas da indignação sem qualquer tipo de problema. Bahhhh!!!

Apontamentos


INEM

Por uma única vez, há já uns anos, estava aflita com o estado de saúde da minha querida menina e telefonei para aquele número que é quase sempre sinónimo de uma grande aflição. Marquei o 112 e a resposta não foi aquela que desejava ou precisava. Nesse dia, zanguei-me com o INEM. Agora, tive uma oportunidade única de conhecer verdadeiramente o INEM. De ver por dentro, de entrar num mundo repleto de histórias com finais que tocam o coração. Não falo de heróis nem de heroínas, de dramas ou tragédias. Falo de uma enorme vontade fazer a diferença quando mais nada resta, falo de uma luta em que todos os segundos contam, falo de querer salvar vidas.Durante os quatro dias em que a minha única e insignificante missão foi acompanhar estes homens e estas mulheres percebi muitas coisas. Percebi sobretudo que a condição humana se revela nos momentos em que todos nos revelamos unicamente como pessoas. Independentemente dos cargos, dos nomes ou do extracto da conta bancária. Percebi que há quem passe a vida a dar vida aos outros e a roubar vidas há morte. Percebi que apesar do cansaço e do stress que é andar sempre a correr de emergência em emergência no final vale sempre a pena, ainda que por vezes não se evite o final triste. Ouvi histórias, muitas histórias. Ouvi histórias tristes e penosas, ouvi histórias felizes e experiências arrepiantes. Vi com os meus próprios olhos o que é tudo isto.Naquele lugar onde caem as chamadas em tempo de aflição ( CODU ­ centro deorientação a doentes urgentes) vi a aflição daqueles que presos a um telefone têm de gerir os meios de socorro e decidir quais as situações de emergência mais urgentes. A bordo da ambulância fui correndo as ruas da baixa enquanto esperava que o telefone tocasse. Quando tocou, o cérebro despertou para tudo aquilo que estava a acontecer. A situação não era de vida ou de morte, mas isso pouca importância teve. A determinação é a mesma.E os cinco andares de escadas foram feitos a uma velocidade alucinante. A dona Maria tinha apenas umas escoriações e a cabeça a precisar de uns pontos, mas o carinho com que a tripulação da ambulância a tratou tocou-me o coração. Na VMER (aquelas carrinhas Passat ), Viaturas Médicas de Emergência e reanimação, não andei, por só haver três lugares. Mas aproveitei o tempopara falar com os médicos e enfermeiros que dedicam algumas das suas horas de folga no hospital para fazerem serviço de urgência. Os relatos são verdadeiros afagos para o espírito. E o entusiasmo de quem conta essas histórias faz ver que apesar de tudo, os momentos felizes compensam todos os outros e que dão oxigénio para se aguentar. No helicóptero a experiênciade voar até aos doentes foi fabulosa. Depois de uma manhã inteira na base em que nada aconteceu, o heli foi chamado e não parou até às 7 da tarde. Apesar de o trabalho ser feito em condições de transporte extraordinárias, o espírito e a determinação são as mesmas.Muitos daqueles com que falei confessaram que desistir foi algo que já passou pelas suas cabeças por diversas vezes. Sempre que pensaram que não aguentavam mais e que chegava de sofrer com o sofrimento dos outros. Mas todos acabaram por ficar. Em cada um dos lugares em passam por experiências fortes fica uma marca. A marca que só eles vêem, a marca de que aquilo que fazem continua a valer a pena.Foi uma experiência que jamais esquecerei e a zanga antiga que tinha desvaneceu-se. Espero do fundo de toda a minha pequena dimensão ter conseguido (nas seis páginas a que tive direito) mostrar aquilo que é o INEM e aquilo que estes homens e mulheres fazem pelos outros.