A uni-los está o momento captado. O mesmo gesto, a mesma ternura, a mesma força, a mesma emoção, o mesmo sentimento.
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Eis as divagações (pouco) profundas e (muito)coloridas pela essência desses minúsculos momentos que ocasionalmente são visiveis aos olhos e que muitas vezes são meras patetices. Pensamentos sobre tudo o que já foi feito, lido, escrito, ouvido e pensado, mas sobretudo sobre tudo aquilo que está por fazer, ler, escrever, ouvir e pensar. Nadas que fazem cócegas no espírito. Nadas cuja essência enche uma vida inteira...
Naquele dia falou-se de sonhos.
Vinha pelo caminho e ele começou a descrever a terra onde eles acontecem.Creio que a viagem até esse território depende apenas da força com que se acredita que as coisas são possíveis. Depende apenas da vontade e da paciência. E o segredo é saber que tudo acaba por acontecer no momento certo.É lá que preencho os meus vazios É a essa terra que vou e que continuarei a ir sempre que o sol estiver escondido atrás das nuvens.
- Milan Kundera, candidato a prémio Nobel da literatura 2007-
Por momentos pensei que lhe iam dar, a ele, o grande prémio da literatura. Seria o contemplado e o reconhecido e muitas pessoas iriam correr às livrarias à procura da sua obraHá dias assim. Há dias em que me dá uma irresistível vontade de chegar a casa e correr em direcção às prateleiras onde repousam Sophia, Pessoa, Fausto, Espanca, José Mário Branco, Ramos Rosa, Mário Sá Carneiro...
Sabe bem escolher um ou outra em função dos dias e dos humores. É maravilhoso nem sequer olhar enquanto se puxa um deles para fora e se abre numa qualquer página. Gosto das coincidências que saltam de um verso imprevisto ou de uma quadra sem sentido.
Hoje, os dedos tropeçaram na antologia de Pessoa que aberto ao acaso me devolveu um Álvaro de Campos. Pegar. Abrir ao acaso numa página qualquer. Descobrir as palavras escritas num dado momento, em direcção a um alguém cuja identidade se esconde nas entrelinhas, sobre um qualquer assunto que não se sabe de onde vem.
Este Álvaro de Campos que faz rima com o meu dia. Pelos ditos magnatas que definem futuros em contas de somar e subtrair numa injustiça que fere até os mais duros. Foi apenas uma coincidência, mas esta constipação é uma inevitável vitória dos euros sobre os sentimentos.
Chamem-me o que entenderem, interpretem como quiserem. Não quero nem saber.