Há dias assim. Há dias em que me dá uma irresistível vontade de chegar a casa e correr em direcção às prateleiras onde repousam Sophia, Pessoa, Fausto, Espanca, José Mário Branco, Ramos Rosa, Mário Sá Carneiro...
Sabe bem escolher um ou outra em função dos dias e dos humores. É maravilhoso nem sequer olhar enquanto se puxa um deles para fora e se abre numa qualquer página. Gosto das coincidências que saltam de um verso imprevisto ou de uma quadra sem sentido.
Hoje, os dedos tropeçaram na antologia de Pessoa que aberto ao acaso me devolveu um Álvaro de Campos. Pegar. Abrir ao acaso numa página qualquer. Descobrir as palavras escritas num dado momento, em direcção a um alguém cuja identidade se esconde nas entrelinhas, sobre um qualquer assunto que não se sabe de onde vem.
Este Álvaro de Campos que faz rima com o meu dia. Pelos ditos magnatas que definem futuros em contas de somar e subtrair numa injustiça que fere até os mais duros. Foi apenas uma coincidência, mas esta constipação é uma inevitável vitória dos euros sobre os sentimentos.
Chamem-me o que entenderem, interpretem como quiserem. Não quero nem saber.Para quem se interessa, eis a explicação: É apenas dor de amiga, nada mais.
"Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
(...)
Nunca estive bem senão deitando-me no universo
(...)
Excusez un peu.... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina"
Álvaro de Campos
3 comentários:
Parabéns CJ
Pelo blog que tem textos muito engraçados e muito bem escritos. Pela maturidade que demonstra.
Pela serenidade.
Por não se importar e por se importar.
E por escrever e partilhar os seus pensamentos connosco.
Parabéns
Rita
Nop, há outra Rita no pedaço.
Até pensei quando comecei a ler o post: "olha é desta que vou dizer bem para me redimir" mas pronto a coisa chega a meio e estraga-se...foi só por isso que me mantive no silêncio...
Estupida
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