quinta-feira, 6 de março de 2008

O 22

Cheguei a Vila Real, de Trás- os-montes, por volta da hora de jantar sem qualquer recomendação. Cirandei pela baixa até descobrir um restaurante com comida não plástica. Com um frio desgraçado na rua e com duas opções em vista, entrei na segunda. Despacharam-me. Cheio com vários grupos e blá blá blá. Voltei para a primeira, que tinha sido abandonada por motivo absolutamente nenhum. Ou talvez porque estava mais perto da porta do segundo e o frio empurrou-me lá para dentro.
Visto da rua, dava ares de um restaurante típico. Engano.
Porta de madeira, escada de madeira. Dois lanços de escada e cheguei a um primeiro andar. Senti-me na casa de uma tia velhinha. Dei por mim numa casa. As mesas espalhadas pelas várias divisões. Passei pela divisão onde estava a cozinha (não por dentro, mas perfeitamente visível) e sentei-me numa divisão que poderia facilmente ser uma sala ou até mesmo um quarto, mas que tinha mesas postas e uma família a jantar.
Com uma luz ténue, umas cortinas aos quadrados na entrada daquela divisão, um pequeno móvel no corredor com uma jarra de flores, uma televisão onde passa a bola e um rádio antigo desligado trouxeram-me uma ementa.
Decidi-me pelo lombo com cogumelos e pelo vinho da casa. Veio um jarrinho: branco com riscas azuis dentro de um prato. Veio uma travessa de lombo no forno com couve estufada e batata frita. Não estava bom. Estava divinal. Deitei um olho à vitela do lado e estava com um igual bom aspecto.
Não sobrou absolutamente nada. O estômago ficou saciado e o espírito maravilhado com aquele lugar com um toque de surreal e de uma decadência cheia de classe e bom gosto. Não sei se decadência será a palavra correcta. Não se trata de algo negativo. Trata-se de um lugar por onde o tempo parece não ter passado. Saí da casa da tia velhinha (o Restaurante 22, em Vila Real), desci a escada de madeira, voltei ao frio da rua.

2 comentários:

Anónimo disse...

AHHAHAHA,podias ter mordiscado o prato do lado,era tudo bom da companhia á vinhaça...vivam as estradas nacionais com curvas que nos matam de susto.

O Recriador disse...

Fez-se juz ao valor trasmontano. Bom prato e bom vinho e boa recepção.