João Miguel Tavares in Noticias Magazine 26 Abril 2009
"A borbulha no rabo de Nicole Kidman
A Teresa faz hoje 34 anos. Tendo em conta que começámos a namorar por volta dos seus 17, significa que ela passou metade da sua vida a aturar-me. Nós somos uma espécie de velhinhos precoces no que toca às matérias do amor: estamos na casa dos trinta mas podemos apregoar que passámos a vida inteira juntos, sem risco de desmentido.
É coisa que já não se usa. E como coisa que já não se usa, somos frequentemente confrontados com a nossa originalidade, assim como se vestíssemos roupa dos anos cinquenta na passerelle dos afectos - uma coisa muito démodé. Os meus amigos mais cínicos garantem que vou descarrilar por volta dos 40, por causa de tudo aquilo "que nunca vivi".E suponho que os amigos dela suspirem intimamente:
"Coitada, tão gira, tão boa pessoa e foi logo arranjar aquele palerma."
Mas eu gosto de me sentir um acidente estatístico. É verdade que não dá para ter aquelas grandes conversas de gajo sobre as gajas que alegadamente se engatam no Lux, muito úteis à propagação do mito da virilidade do macho lusitano. Mas ganha-se uma espécie de aura zen por se ter optado pela monogamia ao longo de tantos anos. Para os meus amigos, em matéria de sexo, eu sou o Dalai Lama (O facto de ter três filhos impede-me de ser Bento XVI, o que já não é mau.)
A coisa só se torna mais difícil quando que nada disto tem a ver com conservadorismo, catolicismo ou quaisquer outros "ismos" ideológicos ou religiosos que eu queira impor - ou sequer sugerir - aos outros. Sinmplesmente aconteceu assim. Não acho que haja qualquer superioridade moral na escassez de aventuras amorosas, a não ser, claro, que duas pessoas optem por ter filhos. De resto, se são mais felizes a fazer colecção de one-night stands, então, meus caros, força nisso - assim haja suficiente vontade e stock de látex.
Mas também é verdade que não acho o contrário, ou seja, que exercitar-me nu com uma senhora diferente todas as noites seja o unico caminho para uma existência devidamente preenchida - uma tese deveras popular nos dias que correm. Quando há 17 anos encontrei a Teresa, simplesmente houve um clique que ainda não desclicou. É difícil? Ás vezes. O mundo está cheio de mulheres giras? Está. Mas eu tenho a teoria da borbulha no rabo da Nicole Kidman.
É uma teoria simples que pode ser formulada da seguinte forma: se a beleza for o único combustível que alimenta uma relação, acabará inevitavelmente por se esgotar. Por mais belo que seja um corpo, um dia cansar-nos-emos dele. E nessa altura encontraremos sempre uma borbulha, uma estria, uma calosidade, um osso saliente com que implicar. Pode ser a belíssima Nicole Kidman. Ou a lindíssima Gisele Bündchen. Chegará o tempo em que todos os centímetros quadrados da pele já foram explorados, todas as posições do Ksamasutra ao alcance da nossa coluna vertebral já foram experimentados - e o tédio virá.
Moral da história? Não há nenhuma. Apenas que em 17 anos, no que me diz respeito, o tédio ainda não chegou. O que é a melhor das prendas para mim - embora quem faça anos seja ela."
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2 comentários:
Esse Sr. para mim é a coisa mais estranha que existe. Eu sou muito...
Ora bem, ou odeio ou adoro, a ele é o nim. Tem dias. Uma vezes diz umas de jeito outros dias diz com cada barbaridade.
Enfim
Olha, Parabéns à Teresa
Andava às voltas à procura deste crónica e vim encontrá-la logo aqui! ;)
Adoro esta nossa sintonia!
Beijos aos molhos*
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