quarta-feira, 16 de maio de 2007

Lados e lados


"Há gente que espera de olhar vazio
na chuva, no frio, encostada ao mundo
a quem nada espanta nenhum gesto
nem raiva ou protesto
nem que o sol se vá perdendo lá ao fundo
há restos de amor e de solidão
na pele, no chão, na rua inquieta
os dias são iguais já sem saudade
nem vontade aprendendo a não querer mais do que o que resta

e a sonhar de olhos abertos
na paragens, nos desertos
a esperar de olhos fechados
sem imagens de outros lados
a sonhar de olhos abertos
sem viagens e regressos
a esperar de olhos fechados outro dia lado a lado

há gente nas ruas que adormece
que se esquece enquanto a noite vem
é gente que aprendeu que nada urge
nada surge porque os dias são viagens de ninguém
a sonhar de olhos abertos
nas paragens, nos desertos
a esperar de olhos fechados
sem imagens de outros lados a sonhar
de olhos abertos sem viagens e regressos
a esperar de olhos fechados outro dia lado a lado
aprende-se a calar a dor a ternura, o rubor
o que sobra de paixão
aprende-se a conter o gesto
a raiva,
o protesto
e há um dia em que a alma nos rebenta nas mãos"

Mafalda Veiga - Lado (a lado)
Porque é demasiado bonito: a música, a melodia, os versos e o que se sente quando se ouve

Sem comentários: