segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

a consciência do eu


Gosto de pessoas. Gosto de olhar para elas, gosto de entrar na encruzilhada de cada uma das pessoas que conheço. Gosto do desafio que é descobrir sempre algo dentro de cada pessoa. Gosto disso. Mas assustam-me as pessoas que não consigo conhecer.


Partindo de mim (sorry pelo narcisismo): sendo eu a pessoa mais confusa que eu conheço, tenho a noção de que não me conheço a mim mesma, que não conheço a minha verdadeira essência. Dá-me um enorme prazer ir-me descobrindo, ir-me construindo, ir-me descontruindo ao longo dos instantes, como se fosse um puzzle daqueles de muitas peças.


Ora, a minha questão é: como é que é possível que as pessoas não só achem que se conhecem como ainda por cima se disfarcem, se transformem, manipulem a sua forma de ser e de agir em em função das ocasiões?


Assusta-me perceber a duplicidade e a frieza que são necessárias para tal. assusta-me sentir a manipulação de quem se é. Para quê criar máscaras umas atrás das outras? Para quê essa falsidade? para quê essa maldade? para quê pretender ser-se quem não se é? Um dia, qd as máscaras caem, vêem-se pessoas feias, falsas e más.


Isto assusta-me porque acho que as pessoas acabam por se perder nos entremeios daquilo que não são e que querem ser, e de nunca virem a ser o que realmente são. Perde-se a essência e quando ela se perde, perde-se a alma.


É tão bom ver a simplicidade.Os defeitos ou as virtudes estão à vista. Quem gosta, gosta. Quem não gosta não gosta. Mas pelo menos não se desilude ninguém e sobretudo, não nos desiludimos a nós mesmos. Estarei errada?


Talvez seja ingenuidade (palavra bonita que não significa mais do que "parvoíce") pensar assim. talvez as máscaras sejam importantes e talvez sejam fonte de poder e tudo mais. Mas não me consigo resignar. Não consigo aceitar. E muito menos não consigo perdoar tal falsidade. Mau feitio? Com certeza!


O que está por trás da maçã? o homem ou aquilo que ele quer ser? Prefiro acreditar que é o homem e prefiro acreditar que a felicidade está em ser-se como se é.


*quadro de René Magrite

1 comentário:

Anónimo disse...

Tenho pouco mais idade que tu mas, mesmo assim consigo afirmar com uma certeza do tamanho de quem tem 20 e meio de que não poderás estar errada quanto à tangência das máscaras que usamos no dia a dia e muitas vezes das máscaras que colocamos no encontro connosco próprios.Olhar-nos ao espelho é sempre difícil.Mais difícil ainda é fixar o olhar durante muito tempo sem que tudo o que vemos perca primeiro o nome e depois o sentido.As máscaras são o que são -superficiais- e valem isso mesmo, a possibilidade da fácil corrupção.Não deixo ,no entanto, de notar que viver sem máscaras é um desafio muito grande para quem ainda é pequerrucho ,como nós,comparadas com esta vida vasta mas penso que é importante não fazer esforço nem para as pôr nem para as tirar.Por enquanto, tentar não dar por elas.


e parabéns oficiais pelo teu delicioso blog

(ana asper)