domingo, 3 de dezembro de 2006

O fim....

A morte é o fim de tudo. É o fim da dor e do sofrimento. Mas, confesso o meu egoismo: o que mais me dói na morte é saber que nunca mais poderei amar quem parte, que nunca mais poderei dizer a essa pessoa o quanto gosto dela e o quanto ela é importante para mim.
Quando era mais pequena e acreditava na existência de um Deus pedia-lhe muitas vezes que me levasse a mim primeiro e só depois todos aqueles que amo. Hoje, uns bons anos depois e sem saber se acredito ou não em Deus, mantenho esse pensamento. Egoista? Sim, talvez seja. No entanto, não me imagino a sobreviver àqueles que mais amo.

É também nestas alturas em que vejo alguém morrer, que questiono o sentido da existência humana. Penso, apesar de ser só uma suspeita, que sou existencialista. O nome é pomposo, mas revejo-me nos ideais de Sartre e de Virgilio Ferreira. Acredito no ser humano e nas suas capacidades. Acredito são as pessoas que se constroem a si mesmas a cada acto, a cada palavra, a cada pensamento. E nestas alturas penso nisso mesmo. Penso em como as pessoas são más umas para as outras, penso em como o mundo seria melhor se as pessoas pensassem só um bocadinho de nada nos outros.

Confesso que nestas alturas penso no conforto que dá acreditar-se em alguma coisa superior. Penso que se acreditasse em Deus, acharia provavelmente que quem parte iria para um lugar melhor. Se acreditasse na reincarnação, esperaria que essa pessoa reincarnasse num corpo de uma pessoa boa. Mas esta indefinição faz-me pensar que as pessoas apenas deixam de existir. Na minha mente confusa, as pessoas vão para o mesmo lugar de onde vêm, seja isso onde for.

Isto para dizer que que esta infeliz dupla oportunidade num só dia, me fez pensar que vale a pena lutar por ser uma pessoa melhor a cada dia que passa. Fez-me pensar no quanto amo os meus pais, o meu irmão, a minha cunhada, as minhas primas, as minhas amigas, os meus amigos, a minha familia e todos aqueles que me fazem sorrir a cada dia. Fez-me pensar no quanto quero aproveitar a companhia de cada um deles. Fez-me pensar que é bom amar e ser amado.

.....e também me fez pensar que de facto não percebo nada destes rituais que se praticam nos funerais. Há coisas tão parvas. Agir de acordo com o que se "deve ser" e não de acordo com os sentimentos que se tem lá dentro, os comentários da conversa de circunstância "pois, é a vida".- Não, não é a vida. é a morte. Mas parece que ninguem o diz. Depois há aqueles que nem nutrem grd proximidade pela vítima, mas que gostam de fazer grandes aparições nestas ocasiões. Bahhhhhhhhhhhhhhhhhhh deve ser só o meu mau feitio mas não tenho grd paciência para a circunstância.

Any way, só espero que esse lugar para as pessoas vão quando morrem seja um lugar semelhante. Se de facto como dizem alguns esse lugar for o céu, então seja assim no céu como na terra. Que cada um tenha oportunidade para ser aquilo que não foi enquanto esteve por aqui, que cada um tenha a oportunidade para ser realmente feliz. Mas, espero sobretudo que a cada dia que passa cada um tenha a oportunidade para lutar pela felicidade plena enquanto está por cá "neste" mundo, que é o único que temos a certeza que existe.

1 comentário:

Anónimo disse...

"A essencia dos pequenos nadas"... é isso mesmo que nós somos, pequenos nadas perante aquilo que nunca puderemos evitar "o fim..." E se não pensássemos num fim? Se em vez de "fim" optassemos antes por um "até já" ao jeito de um slogan agr tão badalado? n sei! Não estou aqui com delirios metafisicos nem, muito menos, com opiniões de cariz religioso..! Acredito, tal como tu acreditavas em pequena, na existência de alguém...! Mas quem? Existe alguém? Não sei.. É mais fácil encarar a "vida" se pudermos optar por "acreditar", ou não, na existencia de um amiguinho algures. Questiono apenas uma coisa: o que fazemos aqui? Se não existir mais nada, porque é que tenho de ver aqueles de quem gosto partir? Porque é que tenho de sofrer por não poder fazer nada por aqueles de quem gosto? Ah, e agr vem a parte do cliché.. pq é que morrem tantos inocentes por esse mundo fora? A minha catequista diria peremptoriamente "chegou a hora deles".. E entramos naquela da circunstância de que falavas.. "É a vida" .. a vida? Que merda de vida então... Há aqui algumas coisas que o amiguinho ainda me tem de responder.. e será que responde? Quando? Onde? E se eu sair uma vez mais defraudado e não existir nenhum "amiguinho" à minha espera?